Flávio de Carvalho: o antropófago ideal
Curadoria: Kiki Mazzucchelli
17.08 — 19.10.2019
Com curadoria de Kiki Mazzucchelli, a mostra Flávio de Carvalho: o antropófago ideal foi originalmente apresentada na Sotheby’s S2 Gallery, em Londres, sendo a primeira exposição individual dedicada a Flávio de Carvalho no Reino Unido, país onde viveu de 1914 a 1922.
A seleção de obras ofereceu um panorama esclarecedor da trajetória multidisciplinar de Flávio de Carvalho, cobrindo cinco décadas de sua produção. Cerca de cinquenta trabalhos, entre desenhos, pinturas, ilustrações, materiais de arquivo e documentação dos projetos imateriais do artista, representam sua diversidade de meios de expressão e sua inestimável contribuição para a ampliação das possibilidades do fazer artístico.
Entre os destaques, estava o conjunto de retratos de alguns nomes significativos que acompanharam Carvalho em sua trajetória artística, formado por pinturas e desenhos cujas linhas expressivas que visam a capturar o estado psicológico de seus modelos. Também chamam atenção os projetos arquitetônicos apresentados pelo artista em concursos nacionais e internacionais. Segundo o biógrafo J. Toledo, em Flávio de Carvalho: o comedor de emoções, Oswald de Andrade o exaltou como o antropófago ideal em 1930, à época do IV Congresso Panamericano de Arquitetura, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Flávio de Carvalho apresentou um ensaio intitulado A cidade do homem nu, seu plano diretor para uma nova metrópole nos trópicos que seria destituída de Deus, propriedade e casamento, numa proposição extremamente ousada em um contexto cultural ultraconservador.
Pintor, escultor, arquiteto, cenógrafo, designer, jornalista, escritor e dramaturgo, Flávio de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em 1899. Reconhecido por investigações de vanguarda na arte performática, Carvalho usou seus muitos talentos e formas excêntricas e irreverentes de expressão para chocar a burguesia. Inovou ao adotar novas mídias, destacando-se por suas inovações no campo do teatro e suas performances artísticas, abrindo caminho para as novas tendências que se desenvolveram no Brasil a partir dos anos 1960.
Apesar de ter recebido atenção significativa da mídia ao longo de sua carreira, a obra de Carvalho constantemente se chocou com o conservadorismo dominante, em uma época em que não havia museus dedicados à arte moderna no país (o primeiro deles, o MASP, foi fundado apenas em 1947). Assim, materiais de arquivo e de documentação relevantes para a reconstrução de sua trajetória artística acabaram sendo dispersados em diferentes coleções públicas e privadas. A exposição apresentada na Almeida & Dale contribuiu para a contextualização e reavaliação da obra de Flávio de Carvalho, acompanhada de um catálogo contendo textos inéditos que abordam temas significativos para uma melhor compreensão de seu papel fundamental na historiografia da arte brasileira.