A produção de Iberê Camargo percorre aspectos fundamentais da pintura moderna, na segunda metade do século XX. O início da trajetória do artista vai das paisagens, retratos e naturezas mortas - que revelam sua reverência às tradições da pintura - até a decisiva série Carretéis, nos anos 50, momento em que o objeto representado ganha um significado autônomo. A princípio, o carretel é um fragmento da memória de infância do artista, eleito o personagem principal de suas naturezas mortas. A partir dessa escolha aparentemente simples, e ao longo de ao menos vinte anos de intensa experimentação, Iberê emancipa seus carretéis da necessidade de representar o real. Através desse objeto, o pintor passa a discutir questões como forma, peso, estrutura, equilíbrio, mobilidade ou imobilidade.
É também com os carretéis que tem início o percurso do artista em direção à abstração e a uma linguagem expressionista singular. Nas pinturas das décadas de 1960 e 1970, Iberê investe no adensamento e na saturação da matéria, na gestualidade e na expressividade. Cria nesse período as sequências: Núcleos, Estruturas, Desdobramentos, Andamentos. As densas camadas de tinta que caracterizam suas telas nesses anos, persistem no retorno de Iberê à figuração, a partir dos anos 1980. Séries desenvolvidas nos anos 1980 e 1990, como Ciclistas, Idiotas, Fantasmagoria e Tudo te é falso e inútil, tornam evidente a proximidade com a linguagem expressionista, sobretudo no tratamento dado à figura humana. A produção tardia do artista lida com figuras errantes, espaços vazios e não teme dar lugar à ausência de sentido. Além de manifestar uma visão inquieta diante da existência e da condição humana, seus trabalhos contribuíram de forma única para elaborar questões no campo específico da pintura e da gravura.
O primeiro contato de Iberê Camargo com a arte se dá em Porto Alegre. Em 1939, recebe uma bolsa do Governo do Rio Grande do Sul para estudar no Rio de Janeiro. Inúmeros críticos destacam a disciplina do artista ao se apropriar do ofício da pintura e seu respeito aos grandes mestres. Entre influências evidentes estão incluídos os trabalhos de Guignard, De Chirico e Lhote, com quem teve aulas no Rio de Janeiro, na década de 1940, e posteriormente em Roma e Paris, entre 1948 e 1950.
Nos anos 1980, década de um conhecido “retorno à pintura” – linguagem jamais abandonada por Iberê – o viés trágico de seus trabalhos ganha destaque. As pinturas de Iberê passam a ser povoadas por seres absurdos, posicionados em ambientes estéreis, quase não-lugares, marcados pelo abandono e desrazão. Esse período de retorno à figuração consiste em momento de grande reconhecimento público da poética de Iberê.
Ao longo de sua carreira, Iberê Camargo participou de inúmeras exposições individuais e Bienais, tanto no Brasil como no exterior. Entre elas se destacam as edições de 1959, 1961, 1963, 1971, 1975 e 1979 da Bienal de São Paulo; Bienal de Veneza, em 1962; Bienal de Tóquio, em 1961, entre outras. Em 1966 é convidado a realizar um enorme painel, presente do governo brasileiro para inauguração do edifício-sede da Organização Mundial da Saúde, em Genebra, na Suiça. Em 1995 é criada a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, instituição fundamental para a preservação da obra e do legado do artista. Seus trabalhos integram coleções públicas relevantes como as do: MAM, São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo; MAC USP, São Paulo; MAC Niterói; MARGS, Porto Alegre; e marcam presença nas principais coleções particulares do país.